16 de novembro de 2011

White Album

by Ana Paula de Almeida às 17:13

Sabe o que me dá mais raiva depois de tudo? É lembrar quantas vezes eu disse a mim mesma que não podia gostar de você. Como se o coração obedecesse a razão. Eu, que sempre me gabei por não me apegar, por não sofrer pelos outros, tava ali, de "quatro" por você. E no melhor sentido. 
Sabe o que me dá mais raiva? É você ter se apropriado das minhas canções melosas dos Beatles. Você podia ter levado as do Keane, do Coldplay, do Snow Patrol, mas não, você quis ser tão marcante que levou meus Fab4. E agora eu não consigo ouvir mais "Sexy Sadie" sem sentir essa maldita saudade de você. E eu não me orgulho, nem um pouco.
Não me orgulho de ter deixado me levar pelas suas piadas sem graça, pelos seus carinhos na minha barriga, pela sua barba roçando no meu pescoço. Porque você tinha de ser tão especial se não podia ser meu? Por que você brincou tanto assim comigo?
Por que logo eu, tão pequena na minha fragilidade, que nunca brinquei com os sentimentos de ninguém, sempre ajudei os velhinhos a atravessarem a rua, sempre paguei minhas contas em dia, porque eu? Eu nunca fui nem a mais bonita nem a mais legal da minha turma. Eu era engraçada, mas e daí? 
E por que eu não posso mais olhar pro meu "White Album" sem lembrar daquele dia que você me contou de quando seu pai te deu de presente esse cd no seu aniversário de 6 anos? Por que eu não consigo tirar o seu perfume do meu travesseiro e da minha memória? Por que eu procuro seus vestígios em cada canto dessa casa, no cigarro apagado na mesa de centro, no sapato jogado pelo corredor, na minha caneca preferida suja de café e no porta retrato com a nossa foto na estante da sala? Por que, depois de tudo, eu ainda queria que você estivesse aqui me dizendo o quanto meus olhos ficavam verdes quando refletidos na réstia de luz que entrava pela fresta aberta da janela? 
Por que mesmo depois de tantas lágrimas eu seria capaz de enxugá-las e te aceitar de volta se você dissesse que sim? E por que eu fico todos os dias olhando pra porta esperando você entrar por ela com sua camisa de flanela e sua mochila detonada de tanto vagar por aí a procura de um abrigo, sendo que seu abrigo sempre foi, e sempre será eu? E eu vou estar te esperando, com Sexy Sadie no rádio, café na mão e meu colo pronto pra sua cabeça deitar. Como sempre foi. 

Ana Paula de Almeida

2 comentários:

Daniel on 16 de novembro de 2011 às 18:04 disse...

Escreva mais !! :)

Regi disse...

Que texto lindo!

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