17 de novembro de 2011

Amor pré-fabricado

by Ana Paula de Almeida às 16:05 0 comentários



Fui criada vendo aquelas comédias românticas clichês. Fui criada com a ilusão de que um dia eu conheceria um cara numa situação inusitada, ficaria apaixonada por ele, a gente passaria por algumas adversidades mas fim daria tudo certo. Com as comédias românticas a gente passa a ficar mais atenta às filas de banco, aos corredores de supermercado, à porta do colégio, à calçada da casa... afinal, o amor pode estar em qualquer lugar. Só que passa um dia, passam dois, passa um mês, um ano, e nada. A gente passa a ficar descrente, mas sempre assistindo às comédias românticas. E se pergunta o que a gente tá fazendo de errado.
Outra triste realidade são os romances que a gente lê. Todos lindos, com mocinhas comuns mas que sempre acham o cara certo. Mesmo que esse cara seja um vampiro, um demônio ou um cara 20 anos mais velho. Elas sempre acham. E eu? Cadê o meu cara certo?
E as músicas? A gente se acostuma a ouvir o Marcelo Camelo (ou o Amarante? nunca sei) dizer que "deixa ser, como será quando a gente se encontrar?". Eu queria saber deixar ser, pra ver como seria se a gente se encontrasse. Eu queria muito Amarante, ter alguém pra cantar "para mim qualquer coisa assim sobre você a minha paz, tristeza nunca mais".
Sabe, acho que eu tô ficando cansada de esperar. Cansada de ver os mesmos filmes, ler os mesmos livros e ouvir as mesmas músicas dizendo que eu vou encontrar alguém pra mim. Será que eu estou de olhos fechados ou esse alguém tá bem longe agora? Ou será que tá perto? Ou será que ele já passou por mim e eu não vi?
Não sei, e não quero me preocupar com isso agora. Cansei de procurar o amor, agora ele que me encontre. E que me dê um empurrão bem forte porque eu sou distraída. Talvez esse seja o meu mau. Eu sou distraída, e foco minha pouca atenção nos filmes, nos livros e nas músicas. Acho que tô precisando é construir meus próprios filmes, minhas próprias músicas e meus próprios livros. Viver a histórias dos outros já me fez perder tempo demais. Não vou deixar de assistir, ler e ouvir. Mas quero ir ao cinema acompanhada, quero ter alguém pra discutir meus livros no jantar e ouvir minhas músicas deitada num colo qualquer. Sonhar com meus contos de fada não vai torná-los realidade. E eu quero sentimentos reais a partir de agora. Vou deixar o livro empoeirar na prateleira e vou bagunçar o lençol da minha cama com um personagem real. Cansei dessas histórias de amores pré-fabricados nos romances, eu quero é romance escrito pra mim, e por mim.

Ana Paula de Almeida

16 de novembro de 2011

Esquina qualquer

by Ana Paula de Almeida às 22:00 1 comentários

E quem diria que naquela esquina deserta da cidade eu encontraria você. Eu, que sempre chorei vendo comédias românticas e que sonhava em um dia encontrar meu amor numa esquina qualquer. Aconteceu. E eu esperei tanto por isso que já tinha até frases prontas, sorrisos ensaiados e gestos pré-programados. Eu iria sorrir, pegar na tua mão e dizer "Eu sabia que ainda te encontraria". Mas foi tão diferente de tudo que eu tinha sonhado. A esquina que eu te encontrei não tinha flores nem cores de fotografia antiga. Era fria, deserta e eu andava rápido porque tinha medo de andar naquele bairro. E você não vinha a pé, vinha de bicicleta. E me atropelou. Ah, quando eu lembro eu dou tanta risada. Dou mais risada ainda porque minha primeira reação foi de que você seria um trombadinha. Na verdade você era, um assaltante, que roubou meu coração. Ai que brega, mas é a verdade você sabe. Tava tão frio aquele dia, que quando eu caí, não sabia se ofegava de medo, se tremia ou se te xingava. Meu coração foi a mil por hora, e não foi de amor não, foi de medo. E você ria de mim! Ria descontroladamente. E eu comecei a chorar, de raiva, de nervoso, de vergonha, de vontade de te bater. Eu ensaiei milhares de palavrões, mas só conseguia tremer de frio e de medo. E você, rindo de mim.
Se eu tivesse pensado bem, não poderia nunca ter me apaixonado por você. Você me atropela, numa bicicleta, e ainda fica zombando do meu medo. Mas hoje quando eu lembro, ou quando você me relembra, eu rio tanto que até choro. Lembra do que aconteceu depois? Você me levantou e me abraçou. E me disse que eu não precisava ficar com medo, você não iria me machucar, e se eu quisesse, ainda me levava no hospital que era ali pertinho. Com a cabeça encostada no teu peito eu me senti protegida. Como nunca havia me sentido antes. E o seu perfume amadeirado me deu uma sensação de aconchego. Eu tava me sentido bem afinal, depois do susto. Mas ainda estava com raiva de você. Que babaca, me atropela, zomba de mim, e me abraça como se eu fosse uma qualquer! Olha só! Eu só queria ir embora, eu só queria sair correndo, mas não conseguia me desvencilhar dos seus braços. Que sensação estranha. Estranhamente deliciosa.
A gente foi caminhando um pouco e você me contou sua história. Tava ali de bicicleta porque gostava de sair pra relaxar sozinho, sem rumo. Graças a Deus não era nenhum trombadinha! Era formado, empregado, e gente de bem. Na verdade eu me senti mais tranquila depois disso. Até esqueci que estava naquele bairro perigoso, afinal. Até parei de tremer, de medo e de frio. E eu fui te contando a minha história.
E a gente começou a construir uma história ali, naquela esquina. Aí você me levou em casa. E me abraçou de novo, e de novo eu senti aquela estranha sensação de que eu tinha encontrado um abrigo pra vida. E você me disse que era mais gostoso me abraçar quando eu não estava tremendo. E que o meu nariz vermelho era uma graça. E que aquilo tinha deixado minhas bochechas vermelhas, e que isso sim era uma graça. Aí você me beijou, e senti pela primeira vez que não tinha mais controle pelo meu corpo. Eu só queria ficar ali, com os seus braços fortes me sustentando. Parece que no cinza daquele céu nublado seus olhos ficaram ainda mais azuis. E cada dia que passava eles ficavam mais doces e familiares pra mim. E agora, eu os vejo daqui do fundo da igreja, pronta pra entrar, pra ser sua pra sempre. Não que eu já não fosse desde aquele "singelo" atropelamento na esquina do bairro perigoso. Mas agora é como nos meus ensaios pra vida, eu já tenho as palavras na ponta da língua pra te dizer, e a sua bicicleta não vai me assustar e me impedir de falar  "Eu sabia que ainda te encontraria, naquela esquina qualquer".

Ana Paula de Almeida

Café de ontem

by Ana Paula de Almeida às 21:27 0 comentários


Não me faz mais tantas perguntas. Não tenta entender os meus motivos. Nem eu entendo, então não consigo te explicar. Como se a razão conseguisse explicar coisas que a gente só sente, não pensa. Se eu estivesse mesmo pensando, não te deixaria. Você tá sempre aí quando eu preciso, sendo um porto seguro, um colo, um abrigo. Mas não dá mais, eu não entendo suas palavras, suas interrogações.
Tô te deixando porque sinto que não sou mais a melhor companhia pra você. E isso não tá relacionado às nossas brigas, mas a nossa sintonia. Eu te olho nos olhos e não te reconheço. Eu te beijo mas não me encaixo. Eu não quero mais ser metade pra você. Porque eu sempre fui toda sua. E você foi todo meu. E a gente era um só. Mas agora parece que é só você, e não eu.
Eu sei que você gosta de mim, eu nunca duvidei disso. Eu também gosto de você, mas não do mesmo jeito. Não sei se é desgaste, se foram as suas mentiras, ou as minhas. Só sei que não é mais do mesmo jeito. Nosso amor já tá com gosto de café passado no dia anterior. A gente não devia ter voltado daquela vez. Aquela noite devia ter ficado apenas nos lençóis.
A fogueira que existia entre a gente no começo foi abrandando, virou uma brasa, e agora são só cinzas. Cinzas ainda quentes, mas cinzas.
Só não fica me questionando o porquê. Por que? Porque eu não sei o porquê. E se eu for tentar te explicar eu vou tropeçar nas palavras e nas suas roupas espalhadas pelo chão da sala. Você sabe que eu não sou boa com perguntas, prefiro às de "sim ou não". Não sei dar mais alternativas. E no nosso caso as alternativas são "sim, a gente vai tentar de novo" e "não, não dá mais". E eu escolho, "não, não dá mais", não dá mais pra ficar engolindo o gosto amargo do café de ontem.
Só não tenta entender, porque eu também não entendo. Não te entendo mais, não me entendo mais. Não nos entendo. E talvez o nós precise virar eu e você pra gente voltar a se entender.

Ana Paula de Almeida

Jardim

by Ana Paula de Almeida às 18:10 0 comentários

E se a gente for pensar, a vida é feito um jardim. Pra gente viver, tem que ter alguém que regue, adube, e dê amor. A gente é feito rosa, bonita, cheia de cor e perfume, mas também tem espinhos. Se não souber pegar uma rosa com cuidado, você se machuca ao invés de contemplar a beleza da flor. A gente precisa de água pra viver, e de amor pra sobreviver. Minha avó me ensinou a amar as rosas, e as pessoas. Porque as rosas precisam de amor pra se manterem bonitas, e as pessoas também.
Pensando bem, por mais bonita que seja a flor, sempre vai existir alguém disposto a despedaçar as pétalas. E sempre vai existir alguém que vai se deslumbrar com a beleza das cores e vai sufocar o desabrochar das rosas. Alguém que vai se esquecer que até as mais belas rosas tem espinhos. 
Mas a beleza de tudo está na imperfeição das coisas. E no amor que a gente deposita sobre as coisas, e as pessoas, imperfeitas. Eu não deixo de amar as rosas porque elas tem espinhos e não deixo de amar as pessoas porque elas tem defeitos. Pra mim, as cores e o perfume das rosas valem mais que meia dúzia de espinhos pontudos. E os sorrisos e carinhos valem mais que pisadas no jardim dos outros que a gente dá ao longo da vida.
Pensando bem, eu vou regar o meu jardim pra que dele nasçam muitas rosas, carinhos e sorrisos.

Ana Paula de Almeida

White Album

by Ana Paula de Almeida às 17:13 2 comentários

Sabe o que me dá mais raiva depois de tudo? É lembrar quantas vezes eu disse a mim mesma que não podia gostar de você. Como se o coração obedecesse a razão. Eu, que sempre me gabei por não me apegar, por não sofrer pelos outros, tava ali, de "quatro" por você. E no melhor sentido. 
Sabe o que me dá mais raiva? É você ter se apropriado das minhas canções melosas dos Beatles. Você podia ter levado as do Keane, do Coldplay, do Snow Patrol, mas não, você quis ser tão marcante que levou meus Fab4. E agora eu não consigo ouvir mais "Sexy Sadie" sem sentir essa maldita saudade de você. E eu não me orgulho, nem um pouco.
Não me orgulho de ter deixado me levar pelas suas piadas sem graça, pelos seus carinhos na minha barriga, pela sua barba roçando no meu pescoço. Porque você tinha de ser tão especial se não podia ser meu? Por que você brincou tanto assim comigo?
Por que logo eu, tão pequena na minha fragilidade, que nunca brinquei com os sentimentos de ninguém, sempre ajudei os velhinhos a atravessarem a rua, sempre paguei minhas contas em dia, porque eu? Eu nunca fui nem a mais bonita nem a mais legal da minha turma. Eu era engraçada, mas e daí? 
E por que eu não posso mais olhar pro meu "White Album" sem lembrar daquele dia que você me contou de quando seu pai te deu de presente esse cd no seu aniversário de 6 anos? Por que eu não consigo tirar o seu perfume do meu travesseiro e da minha memória? Por que eu procuro seus vestígios em cada canto dessa casa, no cigarro apagado na mesa de centro, no sapato jogado pelo corredor, na minha caneca preferida suja de café e no porta retrato com a nossa foto na estante da sala? Por que, depois de tudo, eu ainda queria que você estivesse aqui me dizendo o quanto meus olhos ficavam verdes quando refletidos na réstia de luz que entrava pela fresta aberta da janela? 
Por que mesmo depois de tantas lágrimas eu seria capaz de enxugá-las e te aceitar de volta se você dissesse que sim? E por que eu fico todos os dias olhando pra porta esperando você entrar por ela com sua camisa de flanela e sua mochila detonada de tanto vagar por aí a procura de um abrigo, sendo que seu abrigo sempre foi, e sempre será eu? E eu vou estar te esperando, com Sexy Sadie no rádio, café na mão e meu colo pronto pra sua cabeça deitar. Como sempre foi. 

Ana Paula de Almeida

 

napaulices Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos