15 de dezembro de 2014

Quebra-cabeça

by Ana Paula de Almeida às 21:41 0 comentários

O que você imaginou que estaria fazendo aos 25 anos? O que você imaginou que estaria fazendo aos 30? O que você imaginou ano passado que estaria fazendo nesse? Todo fim de ano sempre surgem na cabeça esses questionamentos. Será que eu consegui tudo o que eu queria? O que falta? O que era uma meta que se tornou uma opção no meio do caminho?
A vida de repente toma um rumo tão diferente daquilo que a gente sonhou, mas no final é tão bom que a gente para e pensa se tava sonhando certo. Minha vida mudou muito nos últimos seis meses. Eu sei bem das metas que eu tracei mas se não me falha a memória, tenho certeza que há seis meses não imaginei um terço do que tô vivendo.
A verdade é que são naqueles momentos que parece que a gente tá num beco escuro é que a luz aparece. Todas as pequenas coisas que se encaixam perfeitamente como um quebra-cabeças na sua vida são bagunçadas de uma só vez e como um passe de mágica, você descobre um novo jeito de montar. Um jeito muito mais bonito e fácil.
Mas será que é fácil assim abandonar sonhos no meio do caminho pra começar a sonhar do zero? É engraçado como algumas coisas e pessoas que pareciam peças-chave do seu quebra-cabeça passam a não encaixar mais.
E tem aqueles momentos que tá tudo bem mas não tá. Você não está passando por nenhuma crise grave, nenhuma escuridão no fim do túnel mas parece que seu quebra-cabeça não tá montado certo. Como se de repente você tivesse surrupiado uma peça da história de outra pessoa, ou talvez você tenha se tornado outra pessoa que precisa de novas peças.
A vida é feito quebra-cabeça, não é porque todas as peças se encaixaram que a brincadeira tem que terminar. Encaixou? Espera que logo tudo embaralha de novo pra você começar do zero, ou da metade, ou do começo do fim. Não importa.
Meu quebra-cabeça há doze meses apontava pra um encaixe completamente diferente. Eu tive que embaralhar e encontrar novas peças porque no meio do caminho tudo mudou. Mas hoje o encaixe é muito mais bonito do que eu pensei que seria. E foi, e está sendo, muito mais divertido encaixar as peças dessa nova história.

1 de setembro de 2014

Setembro

by Ana Paula de Almeida às 09:28 0 comentários

É difícil descrever como um mês mexe tanto comigo. Talvez ninguém entenda, e talvez nem eu entenda. Setembro é o mês mais ambíguo de sentimentos pra mim. É o dia que eu perdi o bem mais precioso que eu tinha, e o que eu ganhei o bem mais precioso que eu tenho.
A primeira semana de setembro é sempre a mais dolorosa, a de adeus. Sete dias relembrando de forma mais clara a saudade do meu pai. Ele se foi no dia sete, dia da independência, como se dando uma carta de alforria. Agora é com você, e é por você. Eu sei que ele nunca me deixou sozinha, eu tenho certeza disso. Mas é como se desde aquele sete de setembro de 1992, eu com onze meses de idade, me visse independente. Aprendi ali a dar meus primeiros passos sozinhas e adquiri um sentimento muito forte de cuidado com tudo e com todos. E todos os anos, na primeira semana de setembro, é como se tudo isso voltasse, como se fossem sete dias relembrando minha independência e dando adeus.
Mas aí, a ambiguidade de sentimentos migra pra segunda semana. A minha semana. A semana do meu aniversário. É um misto de gratidão ao mesmo tempo que é como se eu ficasse mais próxima ainda dele. Ele se foi seis dias antes do meu aniversário, como que se dizendo "você tem que crescer", e é assim que eu me sinto a cada 13 de setembro. Eu tenho que crescer. Cada ano parece que eu ganho mais um de brinde. Esse ano serão 23. De independência, emancipação, crescimento e saudade.
Saudade que nunca passa. Podem ser dois, três, ou vinte dois anos, a saudade é multiplicada pela quantidade de segundos que se passaram.
Mas eu não consigo ficar completamente triste. Todo 13 de setembro é como se fosse um ano novo começando, um feriado de independência pra eu me lembrar de que, apesar de independente, eu não estou sozinha. Nunca estive. E por mais que minha personalidade fechada me diga que às vezes preciso, eu nunca estarei.
Que venha setembro, que venham meus sete dias de saudade, meus treze dias de crescimento, e mais 365 dias pra eu seguir o caminho que ele me ensinou, mesmo que nós nunca tenhamos conversado de verdade, a seguir e nunca desistir.

9 de dezembro de 2013

Escombros

by Ana Paula de Almeida às 12:15 0 comentários
Já diz aquele ditado que não há tempestade que dure para sempre. Mas enquanto dura, é pesada, dura, demorada, carregada de pedras e ventania.
Te desestrutura, desestabiliza, derruba, te tira a vontade de viver. Parece que é mais fácil se entregar e deixar a correnteza te levar.
Enquanto o céu tá negro e cortado de raios, parece impossível enxergar e imaginar que tem céu azul debaixo disso tudo. Mesmo com todo mundo te dizendo que a tempestade vai passar, pra quem tá ali, debaixo da água, é difícil de acreditar. Muito difícil.
É difícil aceitar que de um dia ensolarado e feliz, a vida tenha se transformado numa tempestade, com direito a vendaval. Vendaval daqueles que tiram telhados e as coisas do lugar. Daqueles que carregam, coisas materiais e sonhos. Deixam só os destroços.
Destroços de planos que não vão se concretizar, de abraços que não vão se repetir, de "eu te amo" que não vão ser ouvidos nunca mais. Os sorrisos, as lágrimas, os sonhos, os momentos bons, tudo ficou debaixo dos escombros. E parece que nem a equipe de bombeiros mais capacitada vai conseguir retirá-los dali.
Escombros emocionais, que desmoronaram com a vida que foi interrompida. Vozes que se ouvem lá no fundo, mas que todos sabem que não vão voltar, paredes que não vão se reerguer.
Mas é preciso continuar, depois que a tempestade passa, a vida segue. Por mais difícil que pareça, ela segue. O sol começa a secar os alagamentos e os escombros tem de ser retirados. Para darem lugar a novas histórias. O que passou, ficou ali, não vai se repetir, mas uma vida nova continua dali.
Eu só espero que essa tempestade passe, pra que eu consiga recolher meus escombros, e começar de novo. E de novo quando tudo ruir.


14 de outubro de 2013

Enfim, fim

by Ana Paula de Almeida às 15:04 0 comentários


Vida é ciclo. E todo ciclo, tem começo, meio e fim.
É a lei e não adianta chorar. A gente tem que acostumar durante umas boas décadas a lidar com a ansiedade e o despreparo dos começos, com o conforto dos meios e com a dor dos fins.
Mas os fins, que nem sempre justificam os começos e os meios, e nem sempre são como a gente espera, são sempre tido como os vilões.
Tudo que é bom acaba. Mas tudo que é ruim também.
E o fim dá abertura pra um novo começo, que pode ser ainda melhor que o anterior. Ou não também. Mas é um começo, e começos precisam dos fins para começarem.
E os fins precisam de coragem pra terminar.
O fim não precisa ser triste. Pode dar sim uma pontinha de nostalgia, de algo bom que passou, mas deve dar o friozinho na barriga do que está por vir.
Ruim é meio. No meio tá tudo calmo, simples, rotineiro, sem emoção.
Começo dá medo, fim também. Meio da saudade do começo e receio do fim.
Terminar é preciso. E não deve ser visto como ruim porque às vezes é muito bom. Pode não ser na hora, mas é bom. Dá alívio, tira peso das costas pra que ela fique livre pro próximo fardo que vem por aí.
Terminar o que é ruim é ótimo, mas terminar o que é bom também é gostoso, porque nada é eterno.
Nada.
E a certeza disso é o fim. Natural. Necessário.
Enfim, fim.

10 de setembro de 2013

etéreo

by Ana Paula de Almeida às 10:53 0 comentários
o presente de mais precioso que eu podia ter eu guardei pra você
num lugar casto, etéreo, intrínseco, diáfano
eu não sei quem é você, eu não sei quem vai te trazer
eu não sei se você numa tarde domingo ou numa manhã de quarta-feira
numa noite fria de dezembro ou num sábado chuvoso de julho
se vem de branco ou amarelo
na fila do banco ou na sala de espera do dentista
de longe ou de perto
trazendo sorriso ou indecisão
mas sei que vem...



14 de junho de 2013

Não é problema meu, é problema nosso

by Ana Paula de Almeida às 20:48 1 comentários

Escrevi e apaguei o dia inteiro porque não palavras pareciam insuficientes para demonstrar tamanha indignação e euforia, tudo misturado. De um lado, a emoção de ver o povo indo às ruas, coisa que eu nunca vi, nasci em 1991 e só conheço o episódio dos "caras-pintadas" das histórias que a minha mãe me conta e dos livros didáticos da escola. De outro lado porém, é a indignação frente a ignorância de muitas pessoas que, em pleno 2013, com todo o avanço da proliferação das informações, ainda insistem em ouvir um só lado da história, o lado da mídia tradicional.
13 de junho com certeza entrou pra história do Brasil. O povo saiu às ruas pra lutar por R$0,20, que são muito mais que isso. Os 20 centavos trazem por trás deles todas as mazelas de um povo que não aguenta mais ser humilhado, pisoteado e massacrado todo dia. Um povo que passa quatro horas esmagado nos ônibus e/ou metrô e ainda encara uma jornada de 8 horas por dia. Mazelas que vão muito além do transporte público, isso é só a ponta do iceberg, por trás disso tem todo um país desestruturado, onde a saúde é falha, a educação é falha, a segurança é falha. O Brasil vive um colapso generalizado, não dá pra fechar os olhos pra isso. E é um dos países com o maior recolhimento tributário do mundo, que se fosse convertido em melhorias de verdade pra população, o país não estava do jeito que está. Só que esse mesmo povo se acostumou com décadas de conformismo, mas parece que os 20 centavos acordaram um gigante adormecido, e que resolveu dar um basta nisso tudo.
Eu não apoio nenhum tipo de violência, nem da polícia e nem dos manifestantes, mas também não aceito a generalização de todo o movimento por conta de uma pequena parte do grupo que acha que é na força que se resolve, e que depredar é o único jeito de ser ouvido. Mas gente, por favor, a informação tá na nossa cara. Quantos depoimentos, relatos, vídeos que mostram que não houve motivo pra truculência da polícia em cima dos manifestantes e dos jornalistas que estavam ali trabalhando, ou trabalhadores apenas passando porque é o caminho que fazem todos os dias pra ir pra casa. Até em apartamento eles atiraram, isso não tem justificativa.
Mas não dá pra jogar toda a culpa na PM, infelizmente é um ciclo de erros, que começa quando jogamos nosso voto no lixo e colocamos lá quem não tá interessado no mesmo que a gente. Quem manda na polícia é o governo do Estado, e infelizmente o prefeito da cidade parece que lavou as mãos. Eu não quero entrar nesses méritos, eu não tô lá pra saber realmente o que tá acontecendo, mas faço o possível pra tentar ver todos os lados da história. E todo mundo tem uma parcela de culpa.
O que não dá é pra fechar os olhos e achar que só porque não somos afetados pelo aumento da tarifa, isso não é problema nosso. É sim, é claro que é! Eu nem moro na capital, sou do interior de São Paulo, eu nem ando de ônibus, vou a pé pro trabalho, e isso é problema meu também! É problema meu e é problema seu também. Tô cansada dessa geração de "no cu dos outros é refresco". Enquanto eu escrevo esse texto e você aí que tá lendo, usando a internet e a luz elétrica, estamos pagando impostos, e esses que nem sabemos pra onde tá indo e para o que vai ser convertido. Como eu disse, a tarifa do ônibus é só a ponta do iceberg, é a gota d'água que fez transbordar o rio de podridão que a gente tá nadando escorado nos estilhaços do nosso dia-a-dia.
Mas a "Revolta do Vinagre" mostrou que nem toda a geração é egoísta a ponto de achar que porque não te afeta diretamente, não te diz respeito. Muitos dos que estavam ali protestando, talvez nem usem o transporte público. Mas isso não quer dizer que isso não seja problema deles! Quem foi afetado, não podia deixar o trabalho pra ir protestar porque precisam do dinheiro pra pagar o transporte do mês, e é lindo ver que tem muita gente que foi lá representá-los. Eu tô aqui com a bunda na cadeira porque tô a quilômetros de distância, mas minha vontade era estar lá, exigindo meus direitos.
Só o que eu tenho a dizer é que procurem informação séria, vários blogs, tumblrs, twitters e fanpages estão dedicadas só a isso. Informação não falta. Não se contentem com a superfície. Não achem que não é problema nosso.
E que seja só o começo de um novo tempo, de novos protestos, contra a PEC 37, contra a corrupção e contra tantos outros abusos a que somos expostos todos os dias. Os protestos não são uma corrente isolada de extrema esquerda como uma parte da mídia tenta nos convencer. Não é uma rebelião adolescentes comandada por baderneiros.
E esse problema não é meu, não é seu, é nosso.

Em tempo, esse vídeo aqui me arrepiou e define nosso atual momento

18 de maio de 2013

A beleza de ser o que se é

by Ana Paula de Almeida às 19:12 2 comentários

Esses dias vi um vídeo que satirizava jovens "hipsters" que fingiam gostar de bandas que nem existiam, só pra serem cools. Pensei comigo que eu já fiz muito isso na adolescência, não de fingir conhecer bandas que nem existiam, mas fingir gostar de bandas que eu nem conhecia só pra me enturmar. E é um comportamento comum nessa idade, afinal, é uma época de série crise de identidade, onde a gente quer de fato se encontrar em algum lugar. E um dia a gente se encontra e para de se importar com essa bobagem de fingir ser o que não é, e passa a assumir os verdadeiros gostos.
Não tem coisa melhor que ser bem resolvida a ponto de dizer que gosta de funk e de Beatles, no meu caso. E eu gosto mesmo, qual o problema? Eu não tenho preconceito musical, de verdade. Claro que eu não sou eclética a ponto de dizer que gosto de tudo, porque aí já é ser legal demais. Eu não gosto por exemplo de rap e samba. Não porque acho ruim, por que esse critério é muito subjetivo. E não se deve entrar nos méritos da subjetividade. Não sou ninguém pra julgar o que é bom ou ruim pro outro. Eu não gosto porque não gosto e ponto. Eu tenho esse direito, todo mundo tem.
O que não entra na minha cabeça é ser julgado por seus gostos. Oi? Estamos no ano de 2013 e tem gente que tem a audácia de classificar a pessoa pelo gosto musical. Um dia, um conhecido me disse que ninguém falava que eu gosto de funk porque sou toda delicada, menininha, gosto de moda etc. Quer dizer então que eu tenho que só pelo meu jeito de ser eu só posso gostar de pop, Britney, Beyoncè, Lady Gaga? Que inclusive eu amo, de paixão, sei todas as músicas. Eu gosto muito de muita coisa. Sou fã de Coldplay, de ter discografia e chorar em show. E sei todas as letras do Naldo e da Anitta.
Isso não define meu jeito de me vestir e nem meu modo de agir. Meu irmão ouve rap e não é bandido. Minha mãe ouve sertanejo e não é caipira. Eu sou apaixonada por música eletrônica e não uso ecstasy, nunca usei.
A menina que ouve funk e usa roupa curta não é prostituta e não te dá o direito de mexer com ela na rua e dizer coisas baixas. A menina que ouve rock e gosta de se vestir com calça rasgada e camiseta de banda não é depressiva e isso não te dá o direito de humilhá-la e olhar torto quando ela chega nos lugares.
Parem de rotular as pessoas e diminuírem alguém só pelo que ouve, veste ou gosta de fazer. E pare de fingir ser o que você não é por medo do que as outras pessoas vão pensar.
Não há graça melhor de ser o que se é. De não ter medo de dizer pra todo mundo que você gosta do som de preto e de favelado, mas que quando toca ninguém fica parado. Eu posso ouvir John Lennon e posso ouvir Bonde das Maravilhas que isso não me faz ~nem melhor, nem pior~(sdds orkut) que ninguém. Eu posso assistir minha novela ou meu BBB numa boa sem ninguém me dizer que é por isso que o Brasil não vai pra frente. Até porque não é desligando a tv na hora da novela que o país vai crescer, e sim a partir de atitudes muito maiores, que independem da pobre novela. Eu posso fazer o que eu quiser e tenho o direito de exigir que ninguém me rotule. E você também pode. E ninguém tem nada com isso.
 

napaulices Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos