14 de outubro de 2012

O dia que me perdi de mim

by Ana Paula de Almeida às 01:25 0 comentários

Não sei como foi ao certo, mas de uns tempos pra cá, tenho me perdido de mim. É difícil não se perder de si em meio a tanta correria, eu não queria, mas é difícil. Me perdi de mim o dia que eu decidi que não ia mais seguir o curso que a vida me dava e ia decidir por mim mesma. Me perdi quando decidi me encontrar. Me perdi o dia que decidi que não ia mais pensar em você. Me perdi, mas me encontrei de novo. Me encontrei meio bagunçada, um tanto quanto com as coisas fora de ordem, justamente no momento em que eu decidi organizar tudo. Organizar o que você tinha bagunçado. Seus sapatos jogados pela casa e seus vestígios jogados no meu coração. Eu tentei organizar e foi aí que eu me perdi. Eu me perdi quando pensei que podia tomar as rédeas da situação, vendar meus olhos e fingir que não pensava mais em você. Me afundei no trabalho, nos estudos, nas baladas de fim de semana pra tentar esquecer que eu tava sozinha e fui deixando o resto de mim bagunçando porque eu decidi que não tinha tempo pra organizar tudo isso. Meu medo era voltar pra dentro de mim e ver que você não tava lá. Por um tempo eu consegui, só que chega uma hora que não dá mais pra varrer as memórias pra debaixo do tapete e seu guarda-roupa não comporta mais tanta lembrança. Aí, quando você abre a porta tudo despenca, como uma avalanche. Uma avalanche de lágrimas guardadas e de gritos entalados na garganta. E depois de organizar tudo de novo foi que eu me encontrei. Porque enquanto eu tava me mostrando forte, eu tava perdida no meio da poeira debaixo do tapete e das roupas mofando no armário. O seu cheiro ainda tava impregnado em mim, e por mais que eu tentasse fugir e camuflar com outros perfumes baratos, era na calada da noite, quando eu tava sozinha, que eu me pegava tentando lembrar como era quando você fazia carinho no meu cabelo enquanto eu tentava dormir.
Eu me perdi tentando me encontrar sem você. Só que como se no meio daquelas lembranças guardadas tivesse um mapa que me ajudou a me encontrar de novo, a ser feliz de novo, a sorrir de novo. Sorrir pra vida, pras janelas abertas e pro perfume da cidade.
E é assim que eu me encontro agora.
 

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