17 de outubro de 2011

Na adega

by Ana Paula de Almeida às 23:34

Hoje, enquanto fazia compras no supermercado, parei pra pensar em nós dois. Eu sei, corredor de supermercado não é lugar pra pensar, tem várias pessoas querendo colocar seus produtos no carrinho, pagar e ir embora, tudo o mais rápido possível. Mas não pude evitar pensar em você quando cheguei no corredor dos vinhos. Tudo bem, na "adega", como você insiste em me corrigir. Mas aí eu insisto que adega pra mim é daquelas dos restaurantes chiques, e não a do corredor de supermercado. E aí você me diz que o corredor é climatizado, com prateleiras especiais, então é adega. Então a gente ri um do outro e continua empurrando nosso carrinho. Mas hoje, como estava sozinha, resolvi pensar em você e na primeira vez que a gente se viu. Você se lembra, foi na "adega" do supermercado. Eu havia acabado de mudar, era nova na cidade, recém formada da faculdade e pela primeira vez morando sozinha. Era minha primeira vez no supermercado sozinha, também. Mal sabia o que comprar. Aí eu cheguei na "adega" e resolvi que iria comprar um vinho, afinal, sempre vi meu pai comprando vinhos. Na verdade, eu nem gostava de vinhos, mas meu pai sempre gostava de receber os amigos em casa, e cada vez era uma garrafa diferente. Ele dizia que o vinho era uma ótima bebida para se tomar com os amigos, pois era forte mas casual. Nunca entendi muito bem, mas queria que a minha casa nova fosse cheia de amigos. E eu achava os vinhos muito chiques, como as amigas sempre perfumadas da minha mãe. Mas eu nem sabia comprar vinhos, por mim, iria no de menor preço. Aí, enquanto eu travava um dilema na "adega" do supermercado você apareceu. De calça clara, camisa de algodão e barba por fazer. Me recusaria a acreditar que você entendia de vinhos. Meu pai entendia de vinhos, mas era um homem muito elegante e distinto. Você parecia um menino, e eu era uma menina. Aí você me deu uma aula de vinhos, e me recomendou um suave de mesa. Eu só conseguia pensar em como um rapaz tão lindo e despojado poderia entender de vinhos. Vinho pra mim era coisa de velho, era coisa dos amigos dos meus pais. E você me intrigou. Eu comprei o suave, e nós tomamos juntos, no nosso primeiro encontro. E eu adorei o vinho. E adorei você. Você me ensinou a gostar de vinhos e a gostar de você. E depois dos vinhos, eu aprendi dos queijos, dos livros, dos discos. A gente sempre teve um gosto muito parecido, ou foi você que me ensinou a gostar de tudo que você gostava? Eu não sei. Mas sei que a nossa relação é como os vinhos. A cada dia que passa, fica melhor. Quanto mais "velha", mais gostosa. E foi aí que eu decidi comprar um vinho pra te deixar feliz, já que você me faz feliz desde o dia que a gente se encontrou na "adega" do supermercado. E eu continuei empurrando meu carrinho e pensando em construir uma adega na nossa casa. A nossa adega, o nosso amor.

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