1 de setembro de 2014

Setembro

by Ana Paula de Almeida às 09:28

É difícil descrever como um mês mexe tanto comigo. Talvez ninguém entenda, e talvez nem eu entenda. Setembro é o mês mais ambíguo de sentimentos pra mim. É o dia que eu perdi o bem mais precioso que eu tinha, e o que eu ganhei o bem mais precioso que eu tenho.
A primeira semana de setembro é sempre a mais dolorosa, a de adeus. Sete dias relembrando de forma mais clara a saudade do meu pai. Ele se foi no dia sete, dia da independência, como se dando uma carta de alforria. Agora é com você, e é por você. Eu sei que ele nunca me deixou sozinha, eu tenho certeza disso. Mas é como se desde aquele sete de setembro de 1992, eu com onze meses de idade, me visse independente. Aprendi ali a dar meus primeiros passos sozinhas e adquiri um sentimento muito forte de cuidado com tudo e com todos. E todos os anos, na primeira semana de setembro, é como se tudo isso voltasse, como se fossem sete dias relembrando minha independência e dando adeus.
Mas aí, a ambiguidade de sentimentos migra pra segunda semana. A minha semana. A semana do meu aniversário. É um misto de gratidão ao mesmo tempo que é como se eu ficasse mais próxima ainda dele. Ele se foi seis dias antes do meu aniversário, como que se dizendo "você tem que crescer", e é assim que eu me sinto a cada 13 de setembro. Eu tenho que crescer. Cada ano parece que eu ganho mais um de brinde. Esse ano serão 23. De independência, emancipação, crescimento e saudade.
Saudade que nunca passa. Podem ser dois, três, ou vinte dois anos, a saudade é multiplicada pela quantidade de segundos que se passaram.
Mas eu não consigo ficar completamente triste. Todo 13 de setembro é como se fosse um ano novo começando, um feriado de independência pra eu me lembrar de que, apesar de independente, eu não estou sozinha. Nunca estive. E por mais que minha personalidade fechada me diga que às vezes preciso, eu nunca estarei.
Que venha setembro, que venham meus sete dias de saudade, meus treze dias de crescimento, e mais 365 dias pra eu seguir o caminho que ele me ensinou, mesmo que nós nunca tenhamos conversado de verdade, a seguir e nunca desistir.

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