14 de junho de 2013

Não é problema meu, é problema nosso

by Ana Paula de Almeida às 20:48

Escrevi e apaguei o dia inteiro porque não palavras pareciam insuficientes para demonstrar tamanha indignação e euforia, tudo misturado. De um lado, a emoção de ver o povo indo às ruas, coisa que eu nunca vi, nasci em 1991 e só conheço o episódio dos "caras-pintadas" das histórias que a minha mãe me conta e dos livros didáticos da escola. De outro lado porém, é a indignação frente a ignorância de muitas pessoas que, em pleno 2013, com todo o avanço da proliferação das informações, ainda insistem em ouvir um só lado da história, o lado da mídia tradicional.
13 de junho com certeza entrou pra história do Brasil. O povo saiu às ruas pra lutar por R$0,20, que são muito mais que isso. Os 20 centavos trazem por trás deles todas as mazelas de um povo que não aguenta mais ser humilhado, pisoteado e massacrado todo dia. Um povo que passa quatro horas esmagado nos ônibus e/ou metrô e ainda encara uma jornada de 8 horas por dia. Mazelas que vão muito além do transporte público, isso é só a ponta do iceberg, por trás disso tem todo um país desestruturado, onde a saúde é falha, a educação é falha, a segurança é falha. O Brasil vive um colapso generalizado, não dá pra fechar os olhos pra isso. E é um dos países com o maior recolhimento tributário do mundo, que se fosse convertido em melhorias de verdade pra população, o país não estava do jeito que está. Só que esse mesmo povo se acostumou com décadas de conformismo, mas parece que os 20 centavos acordaram um gigante adormecido, e que resolveu dar um basta nisso tudo.
Eu não apoio nenhum tipo de violência, nem da polícia e nem dos manifestantes, mas também não aceito a generalização de todo o movimento por conta de uma pequena parte do grupo que acha que é na força que se resolve, e que depredar é o único jeito de ser ouvido. Mas gente, por favor, a informação tá na nossa cara. Quantos depoimentos, relatos, vídeos que mostram que não houve motivo pra truculência da polícia em cima dos manifestantes e dos jornalistas que estavam ali trabalhando, ou trabalhadores apenas passando porque é o caminho que fazem todos os dias pra ir pra casa. Até em apartamento eles atiraram, isso não tem justificativa.
Mas não dá pra jogar toda a culpa na PM, infelizmente é um ciclo de erros, que começa quando jogamos nosso voto no lixo e colocamos lá quem não tá interessado no mesmo que a gente. Quem manda na polícia é o governo do Estado, e infelizmente o prefeito da cidade parece que lavou as mãos. Eu não quero entrar nesses méritos, eu não tô lá pra saber realmente o que tá acontecendo, mas faço o possível pra tentar ver todos os lados da história. E todo mundo tem uma parcela de culpa.
O que não dá é pra fechar os olhos e achar que só porque não somos afetados pelo aumento da tarifa, isso não é problema nosso. É sim, é claro que é! Eu nem moro na capital, sou do interior de São Paulo, eu nem ando de ônibus, vou a pé pro trabalho, e isso é problema meu também! É problema meu e é problema seu também. Tô cansada dessa geração de "no cu dos outros é refresco". Enquanto eu escrevo esse texto e você aí que tá lendo, usando a internet e a luz elétrica, estamos pagando impostos, e esses que nem sabemos pra onde tá indo e para o que vai ser convertido. Como eu disse, a tarifa do ônibus é só a ponta do iceberg, é a gota d'água que fez transbordar o rio de podridão que a gente tá nadando escorado nos estilhaços do nosso dia-a-dia.
Mas a "Revolta do Vinagre" mostrou que nem toda a geração é egoísta a ponto de achar que porque não te afeta diretamente, não te diz respeito. Muitos dos que estavam ali protestando, talvez nem usem o transporte público. Mas isso não quer dizer que isso não seja problema deles! Quem foi afetado, não podia deixar o trabalho pra ir protestar porque precisam do dinheiro pra pagar o transporte do mês, e é lindo ver que tem muita gente que foi lá representá-los. Eu tô aqui com a bunda na cadeira porque tô a quilômetros de distância, mas minha vontade era estar lá, exigindo meus direitos.
Só o que eu tenho a dizer é que procurem informação séria, vários blogs, tumblrs, twitters e fanpages estão dedicadas só a isso. Informação não falta. Não se contentem com a superfície. Não achem que não é problema nosso.
E que seja só o começo de um novo tempo, de novos protestos, contra a PEC 37, contra a corrupção e contra tantos outros abusos a que somos expostos todos os dias. Os protestos não são uma corrente isolada de extrema esquerda como uma parte da mídia tenta nos convencer. Não é uma rebelião adolescentes comandada por baderneiros.
E esse problema não é meu, não é seu, é nosso.

Em tempo, esse vídeo aqui me arrepiou e define nosso atual momento

1 comentários:

Kb on 14 de junho de 2013 às 20:57 disse...

Sinceramente? Esse é um novo momento da história. Com toda a certeza é um caminho a se seguir. O povo foi a rua, não simplesmente pelo fato de reduzir, mas aumentar, fazer valer a voz do povo que era para estar sendo representado e não agredido. Um povo que foi esquecido, que perdeu a autonomia para governantes e toda a sua corja, tudo em nome do empresariado. Claro que a primeira vista parece mais um monte de "vagabundo", como alguns dizem por aí, mas ainda assim, são esses mesmos "vagabundos" que tem coragem de levantar a bunda da poltrona e sair da zona franca do comodismo para ir e mostrar que quem deve baixar a guarda, é todo esse sistema político que esqueceu a razão pela qual eles foram escolhidos. Felizmente, essa é a abertura de uma nova forma de dizer que estamos aqui e queremos os nossos direitos garantidos. Baderna? Caos? Fazer o que né? As vezes é "preciso destruir para criar", pois se "abaixo-assinados" e qualquer outra forma de fazer-se ouvir não é observada, é assim que todos nós somos chamados para nos "aparecer" e não permitir que sejamos mais massacrados, pisoteados e esquecidos!

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